"... Ela está sempre tão dentro dela mesma que qualquer coisa que faça não é nem certa nem errada, é simplesmente o que ela podia fazer." (Caio Fernando Abreu)
segunda-feira, 29 de março de 2010
se reapaixonar todo dia
Eu estive pensando, o que seria da vida se a gente não chegasse a se apaixonar todo dia, a vida com toda certeza não teria nenhuma graça, não é que você tenha que estar expecificadamente apaixonada por uma pessoa... Você pode ser apaixonada por tantas coisas³, pelo luar, pelo nascer do sol, pelo seu cachorro/gato, por uma roupa, por um carro... Há tantas coisas pelas quais as pessoas se apaixonam... Mas, convenhamos, o melhor da paixão, o tipo de paixão mais gostosa é a que sentimos pelo ser humano! Afinal, quem é que não gosta de sentir aquele friozinho na barriga quando vê a pessoa amada, se arrepiar em um beijo, se sentir no céu ao ouvir um "eu te amo"?! Aah, meu amigo, sejamos sinceros... não há nada no mundo melhor do que isso. A paixão é o puro gosto do amargo e a droga mais doce. Ecstasiante, não é atoa que chamam o ecstasy de "a pilula do amor", mas sabe... não vale trapacear no jogo da paixão, o negócio é dar a cara a tapa, aguentar as incertezas, por de lado os temores e curtir o lado bom de se estar apaixonado... Afinal, quem nunca compartilhar de um sorriso, jamais encontrará o verdadeiro céu!
Maiara Blatt
sexta-feira, 26 de março de 2010
eu sei que é pra sempre, enquato durar
Eu tinha que falar sobre você, tinha que dizer algo para você por mais que as palavras me faltem e o que eu realmente queira te dizer não tem nenhuma explicação lógica, coerente.
Me senti agoniada, completamente perdida por não saber o que te dizer. Não sabia como reagir ao seu silêncio, a sua seriedade, a sua indiferença... não sabia como chamar a sua atenção, como te ter em minhas mãos - na verdade ainda não sei.
Tudo bem, pode até ser uma faze, um temor inconciente, já passou, tudo agora está bem, talvez bem até demais, mas o caso é que por mais que tudo esteja bem superficialmente, lá no fundo onde as coisas realmente valem, nada está bem como deveria estar.
Mas sabe, eu sei que é amor, e eu não peço nenhuma prova.
Você me disse que é pra sempre, mas seria apenas para sempre enquanto durar?!
(pequeno mas sincero!)
segunda-feira, 22 de março de 2010
adultos...
Quando eu era pequena achava que os adultos não tinham sentimentos. Eles não se apaixonavam, não namoravam, não riam nem tinham orgasmos. Aliás, quando primeiramente descobri o que era sexo, foi vendo os filmes na televisão, e sempre achei que só os homens tinham orgasmos. As mulheres só serviam de tipo "porto seguro", um lugar quentinho para colocar o órgão de reprodução masculina. Por isso que as mulheres engravidavam e os homens não - afinal, eram eles que colocavam o bebê lá dentro. Bem, enfim, eu achava que adultos não sentiam nada - só viviam para trabalhar, sustentar os filhos e dormir. E colocar bebês nas barrigas das mulheres.
Afinal, como eu podia ser tão intensa, sentir tudo a minha volta, agir muito mais instintivamente e emocionalmente do que de modo racional, e ninguém mais ser assim? A minha mãe era tão fria, eu sempre voltava pra casa chorando por causa de um olhar, uma risada, um tapa, qualquer coisinha. E ela sempre ficava naquela seriedade toda. Não sentia nada. Então passei a ver que o "adulto" era algo muito acima da minha concepção, algo técnico, como matemática, frio, exato, apenas números escritos no papel que era o mundo. No final, aquilo só aumentava a minha intensidade, porque eu tentava me prender mas não conseguia. Então voltava pra casa chorando e mamãe só ficava lá, calada, fria, impassível.
E também não entendia porque eles sempre se controlavam. Eu sempre estava fervilhando, com os sentimentos à mostra, para todos ver. Eu era transparente. Mas os adultos não. Eles sempre estava lá, escondidos, empacotados em suas roupas grandes demais, em seus paletós e caras sérias. Ninguém sorria. E eu voltava para casa derramando lágrimas enquanto lá fora os pais dos meus vizinhos os recolhiam, com caras impassíveis, cansadas ou apenas adultas.
Até que comecei a assistir mais filmes que diziam isso. Os adultos nada mais eram que impassíveis, apenas vivendo no mundo para fazer o dinheiro circular. Apenas trabalhando, saindo cedo e chegando tarde, sem dar o mínimo de atenção ao que lhes rodeava. Acho que por isso que nunca fui consumista, de entrar num shopping e comprar horrores só para me sentir melhor (conheço pessoas assim e nunca entendi como é que isso lhes faz tão bem). Eu não comprava para me sentir melhor porque eu achava que estaria sendo igual aos adultos que eu conhecia, ou pensava que conhecia, ou analisava - mesmo que não lembre de nada. Eu achava que estava sendo igualzinha a eles, somente gastando o dinheiro que consegui com o meu trabalho. Nada mais. Nenhum sentimento, nenhum apego, nada.
Demorei para entender que, no final das contas, as pessoas só estão fugindo de si mesmas e por isso fingem que são cultas e frias, para não ter de se apegarem a ninguém por saber que, a qualquer momento, aquela pessoa pode ir embora. Ou pode lhe trazer problemas piores. Então, se apegam as coisas, ao material, às compras, só porque supostamente demoram mais para acabar. Trabalham para ganhar. E vivem para gastar. Mal sabem que elas próprias tem fim, e até mesmo uma coisa comprada num shopping pode lhes trazer problemas ou acabar.
No final, todos nós só precisamos de uma dose de amor, de intensidade, aquela mesma que eu destilava tanto nos meus choros quando era criança. E ainda destilo, vez por outra, com mais frequência do que eu queria.
A gente só precisa de amor. Ou um livro gostoso num fim de tarde chuvoso. Ou um filme de terror.
No final, é tudo sobre o amor. E estão todos correndo, se escondendo, fugindo dele.
(e eu nunca vou entender o porquê)
sexta-feira, 19 de março de 2010
Amanhã vai ser outro dia
Abriu a porta sem bater.
- O que está fazendo?
- O que você acha?
Ele estava sentado em frente ao piano, dedilhando as teclas sem produzir som. Um copo de whisky boiava no mogno, fazendo uma roda de água. Ao ver, pensou em reclamar. Mas, depois daquela tarde, uma briguinha por uma bobagem daquelas agravaria ainda mais a situação. Encostou-se na estante ao lado.
- Porque isso tudo?
O pianista encarou-o com um olhar óbvio. O outro abaixou os olhos.
- Achei que fosse legal. Pensei que você fosse gostar. Também não sabia que a reação deles seria daquele jeito. - mexeu nos dedos das mãos. - Eu jurava que ia ser diferente.
- É. Reparei. Você ficou todo vermelho. Todo mesmo, até o dedo dos pés. - fez uma pausa. Tocou uma nota no piano, baixinho. - Combinou com seu cabelo - disse quase sussurrante.
Deu um sorriso forçado. Um fiapo de lua minguante minguava do céu, entrando pela janela, deixando rastro no chão da sala. Olhou ao redor. Quase nada mais no quarto - só o piano, a roda de água no mogno, o copo de whisky, alguns caixotes perto da porta, e a estante que outrora estava cheia de livros. Agora, vazia.
- Não faz diferença. - começou o ruivo, olhando o rastro da lua - Me senti mal, com raiva, e ao mesmo tempo envergonhado. Era só a porcaria de uma reunião! As pessoas lá me surpreenderam. Eu achava que exatamente por eles já terem problemas com o mundo, aceitariam as coisas na boa. Mas foi uma merda. Juro como nunca fiquei tão frustrado em toda minha vida. Até o velho zelador nos olhou feio quando estávamos saindo. Imagino o que devem ter falado. Minha orelha já devia ter pegado fogo.
- Se fosse assim, estaríamos todo queimado. Aliás, você já está ficando quase todo vermelho de novo. Tsc. Deixa isso pra lá. Vem cá, vem.
Bateu de leve no banco do piano, afastando-se. Ele sentou-se pesadamente, emburrado. Cruzou os braços. Um leve rubor e o lábio formou um biquinho.
- Nhé. Seu bobo. Todo mundo é assim, você é que se faz de inocente e acha que as pessoas vão finalmente nos encarar como "parte da sociedade". São todos uns medievais, que não conseguem evoluir no tempo, ficam estancados e tem esse tipo de reação toda vez que algo "diferente" do cotidiano deles aparece. O pior é eles nos atacarem, como se a gente tivesse feito alguma coisa contra. Isso é o que mais me deixa puto - aumentou a voz, sem querer - É como se fôssemos as hienas novas da área, e eles as onças, prestes a nos devorar. O que eles querem é acabar com a nossa espécie! Mas todo mundo sabe que a gente só faz aumentar cada vez mais!
- Agora quem está ficando vermelho é você - interrompeu o ruivo.
Silêncio. Os dois soltaram um suspiro cansado. O vazio da casa se alastrava ao redor deles, e qualquer barulho a mais fazia eco. A última fala do pianista ainda vibrava, imperceptível, e como se usasse de desculpa para mandar embora aquela frequência, o garoto de cabelos acobreados tocou o pequeno início de uma das músicas que eles adoravam. Sorriram um para o outro - boas lembranças tomaram conta de suas mentes.
- Esse lugar vai deixar saudade.
- Em alguns aspectos, sim. Mas eu já estou cansado dessa suspeita toda. Parece que todo mundo sabe que moramos juntos, e que trocamos saliva e alguns outros fluidos nas horas vagas.
O outro sorriu. Tinha um sorriso maravilhoso, os lábios grandes e pequenos buraquinhos nas bochechas. O ruivo apertou um desses buraquinhos, sorrindo também. Apesar de tudo, ainda estavam felizes.
- O mundo é gay - disse o ruivo.
- Não. Ainda não. Mas vai virar - ressaltou o outro.
Beijou-o levemente e, com a ponta dos dedos, de leve enrolou um fio do cobre cacheado que avolumava na cabeça do outro. Olhou-o nos olhos.
- Vamos parar de se preocupar com isso? Já estou cansado. - bocejou longamente, esticando os braços para trás. - Que tal irmos para cama agora?
O ruivo soltou um suspiro e assentiu.
- Você é tão tranquilo. - disse ele.
- E você é muito irritadinho. - replicou o outro.
- Faço jus ao meu cabelo. - e soltou um sorriso abafado.
Levantaram, fecharam o piano e caminharam em direção ao quarto. Lá, a cama branca, sem lençol, só com dois travesseiros, deixava tudo mais vazio. Um último quadro pendurado na parede, alguns livros velhos e folhas de desenho espalhadas no chão. Nada mais. Deitaram na cama. O ruivo encostou-se no peito do seu melhor amigo, parceiro sexual e, num futuro mais próximo do que eles esperavam, marido. O outro passou o braço sobre os ombros dele e ajeitou a samba-canção de seda. Encaixaram-se, um nos braços do outro.
- As pessoas que se fodam. Deixa elas pensarem o que quiserem de nós. O que importa é que estamos aqui, e quanto tempo falta para irmos embora? Dois dias? É. Esse lugar não pertence a nós. Aliás, nós não pertencemos a esse país. - e dando um beijo na testa do ruivo, completou: - Eu te amo. É isso que importa. Vamos dormir, que amanhã vai ser outro dia.
- É. Boa noite.
Apagaram o abajur, deram um beijo estalado e finalmente, caíram no sono.
esse texto foi criado especialmente para o meu irmão. Só ele sabe da importância que isso tem, só ele sabe o quanto eu amo ele. E é ele uma das minhas fotes inspiradoras... Eu te amo, por mais que tudo seje como seja. Você se torna perfeito pelo que é por dentro e não pelo que as pessoas dizem de você!
o bastante
O bastante. O quanto bastante bom você é? Ou bastante mal?
O equilíbrio entre duas forças é o bastante. Bastante para matar, bastante para viver. Bastante para respirar, para sentir o vento balançar seus cabelos, bastante para amar.
Nunca somos o bastante para nada. Já percebeu? Você nunca é o bastante para ter aquele emprego, ou ainda conseguir conquistar aquela garota, ou sequer ter um amigo verdadeiro. Tudo ao seu redor é feito de farsas efêmeras, um futuro tão incerto e tão frágil... e muda a cada segundo. E você não é o bastante para agüentar isso.
Você não é bastante auto-suficiente, sempre depende de alguém ou alguma coisa. É claro que pode viver sozinho, mas não se é feliz. E o que é bastante feliz para se ter uma vida, bem, digamos que digna? O bastante para viver é apenas o fato de respirar? E as conquistas, ficam aonde? Vão para o fundo do poço, morrem e são comidas por vermes, junto com você. E todos os seus sonhos, que foram ou não realizados, se perdem no espaço, em meio a energias de fótons e zeros e uns. Para sempre.
E você termina sem saber se foi realmente o bastante.
O que é bastante importante para você fazer nesse mundo? Qual o bastante para sua presença ser diferente entre todos os outros? Quanto é o bastante para mudar uma vida? O que te faz ser tão igual, qual o bastante para tanta igualdade? Qual o bastante para tanta desigualdade?
O bastante para ser feliz é o mesmo bastante para se ser infeliz. O bastante para sobreviver a um assalto é o bastante para continuar vivo quando se acorda. O bastante para querer é o bastante para lutar por isso. Você não é o bastante para isso! Você não é bastante bom para ter isso, ou aquilo, ou aquele, ou aquela.
Quem é bom o bastante para alguém?
O que é mau o bastante para te matar?
O que cabe em "bastante"? E quanto?
death
Ela tem vários disfarces. E aparece incontáveis vezes ao dia. Em qualquer lugar que você vá, ela está lá. Em pequenos detalhes. Ou em grandes acontecimentos. Na maioria das situações do seu dia-a-dia, ela lhe acompanhará. Quase como uma sombra atrás de você, imperceptível mesmo aos olhos mais espertos do mundo, ela estará à espreita, logo atrás, num lugar escondido, esperando você somente dar um passo errado numa caminhada. Colocar uma palavra errada numa frase. Deixar de responder a uma única pergunta, simples e - talvez - sem importância. Para você, é sem importância, mas para ela - é a chava que ela precisa para lhe atacar. E, quando você menos espera, ela lhe pegou e carregou você nos braços, para muito, muito longe daqui.
Você não sabe, mas convive com ela todos os dias. Ao sair de casa, e quase pisar dentro de um bueiro. Ao atravessar a rua, mesmo com um carro próximo demais. Ao não esperar o sinal fechar. Ao atender o celular. Ao conversar com alguém do outro lado da rua. Ao pegar o ônibus errado. Ao entrar no ônibus e não ter lugar para sentar. Ao sentar próximo da janela. Você não sabe de que lado ela vem, mas sabe que ela está por ali. Rondando. Sondando. À espreita.
Os que a descobrem facilmente, podem achá-la até mesmo simpática e amigável. Porém são poucos. Geralmente, quando você a vê, pelo canto do olho, ficará com medo e logo, com uma rapidez que julgará infinita, desviará o olhar. Mas, se for curioso, descobrirá que, ao olhar de novo, ela está ali. E ali, do outro lado. E mais ali na frente. E logo um pouquinho mais à direita, quase atrás de sua cabeça. Só não olhe para baixo. Isso pode ser, para ela, o golpe fatal.
Porém, não se preocupe. Não fique achando que só porque ela te sonda, ela te fará mal. Ela sabe o que faz. Ela somente vigia, entediada, e se divertindo às suas custas. Mas nunca prega peças. Só espera, para ver sua reação. Ela sabe que você já prega muitas peças e põe muitos obstáculos na frente de tudo, só para ser mais trabalhoso. Você é quem projeta os milhares de encontros com ela no dia-a-dia, só que não percebe. Só ela que percebe. E se diverte.
Então, se divirta junto com ela. Ache suas próprias brincadeiras com o destino. Mas tome cuidado com os bueiros, as ruas, os sinais e as palavras. Talvez, numa dessas situações, quando você menos espera, ela atacará você. E, você sabe, que com ela é caminho sem volta.
quinta-feira, 18 de março de 2010
♥
Você entrou na minha vida como uma tatuagem, mas aquela que não aparenta ser de rena.
Posso jurar de novo que tentei não me recair com teus encantos, mas não resisti. Não resisto.
Quando o seu olhar cai no meu, parece até involuntário. Minhas bochechas se coram, meu sorriso se abre. E como resposta, sorri junto. E ficamos assim, sorrindo. Quem vê de fora até pensa que é premeditado, uma brincadeira que gerou algum tipo de lembrança – que nos traz o sorriso. Mas não é.
E a cada segundo que acontece, nos aproximamos mesmo sem saber, sem sentir. Parece que é aquela coisa no ar, como se fosse um clima. Parece que é um tipo de sinal, um toque, que quando o percebemos nos olhamos e ‘tchan’.
Durante um tempo tentei me preservar para o que poderia vir. Tentei me amar acima de tudo, tentei amadurecer para quem sabe como dizem: “poderem me dar valor como sou”. Estive muito bem sozinha, obrigada. Consegui acima de tudo manter os pés no chão,o que é bem difícil para uma pessoa que só consegue viver voando – escondida, quem sabe. Tinha decidido que só conseguiria gostar realmente de alguém quando soubesse que esse alguém me merecia. Que saberia me reconhecer, me amar acima das diferenças, me ver como realmente sou.
Reconheço que no inicio foi difícil – afinal, uma pessoa como eu se alimenta da paixão, só consegue viver apaixonada. E o tempo foi passando. Com ele, o céu veio voltando a tomar cor, e comecei a reconhecer as ‘tais estrelas’ que para mim sempre brilhavam.
Então, será que para tudo mudar de maneira tão repentina, teve um propósito? Será que certa parte do meu ‘instinto’ sentiu que já estava na hora de escrever para alguém novamente? Será que por ter te conhecido em tão pouco tempo, teus gestos me mostraram aquilo que me sentia preparada para receber? Será, será... E as perguntas começam novamente.
Mas aceito, aceito de bom grado. Sei que tais perguntas rondaram minha mente junto com a lembrança do seu rosto, vagando como uma maresia de um cigarro que há muito já foi. Mas ficou no ar. Você ficou no ar, mesmo que não tenha deixado nada para trás. Apenas a lembrança que não quer se apagar – e eu espero que não se apague.
Que não se apague tão cedo, para poder admirar teu rosto em minha mente, dormir com o sussurrar de tuas palavras. Que deixe minha imaginação fluir fazendo cenas, criando palavras, sendo única. Unicamente da única maneira que quero ser – unicamente sua.
um rio...
Já me falaram que a vida é assim. Que ela corre e não para. E que vai, arrastando tudo que vê pelo caminho, seja bom ou ruim, até tomar o seu real curso. Ele pode transbordar, fazer uma nova margem, quem sabe até ficar menos denso, diminuir a sua quantidade de água ou algo assim. Não importa. O rio continua correndo.
Na nossa vida, esse curso traz conseqüências. Mas, se pensarmos bem, o que não traz?
Vivemos tentando aproveitar o máximo do presente, tentando trazer – ou viver – aquela palavrinha que tantos vêem como mágica: a felicidade.
Mas como diria a música: ‘O que é? O que é, meu irmão? Ela é a batida de um coração?’
Ali ela se refere à vida, mas falemos da felicidade.
Seria um sorriso? Um estado maior? Um sentimento bom?
É possível ser feliz sozinho?
Durante tanto, mas tanto tempo procurei por todas estas respostas.. E não vou mentir, ainda procuro. Mas é apenas estando do lado oposto – degustando da tristeza – que damos o verdadeiro valor à felicidade. O problema é que quando isso acontece, o singular domina. Ele entra na sua cabeça e te revira do avesso, te faz pensar diferente – ser diferente. E tudo isso deixa uma marca, uma cicatriz. Para alguns ela pode ser visível, mas para outros não. Então, desta maneira vemos o singular como errado, e passamos a buscar desesperadamente pelo plural. Para que assim, se houverem cicatrizes, que as suas conseqüências sejam sorrisos, não lágrimas.
O plural te deixa feliz. Te faz sentir completo. Faz com que quando você olhe para o passado, pense “como consegui viver sem?”;
E assim leva seus dias. Cria linhas, caminhos, historias, compartilha sorrisos.
E é bom demais.
Mas todo curso tem uma virada. Eis o nosso rio.
Algumas pedras no caminho o plural agüenta, mas outras não. Ele simplesmente implora singular, e não sossega se isso não acontecer. Foi assim.
Quando plural, tudo é compreensível, aceitável. Quando singular, o outro te aponta o dedo, te critica, e faz tudo ao contrario de quando tinha tudo para dar errado – e dava certo.
Um paradoxo particular.
Como um tipo de bomba à parte que não explode enquanto o tempo corre no cronometro, pois ele nunca iria parar. Ela só detona quando.. bem, quando o tempo não existe.
E então, como lidar com o tempo, e com a tristeza, quando a sua única opção de felicidade te deixou cicatrizes que trouxeram mais lágrimas quando eram para resultar em sorrisos?
O que fazer?
Seguir o curso.
Admire-se, foi bom. Maravilhoso. Mas se um singular não conseguiu aceitar o outro depois de não serem mais plurais, vai ver não era para ser. Vai ver era mais uma façanha de uma curva, um truque da tristeza, para trazer a felicidade.
E vamos segundo como um rio.
Não sabemos que virá após aquela curva, se agüentaremos alguma chuva, quem sabe passar por cima de uma pedra, transbordar. Quem sabe.
Mas sempre seguir.
E nunca deixar de tentar ser feliz.
Mesmo no singular.
e mais uma noite se foi...
Quando o sol aponta no horizonte quebrando a madrugada, a lua já começa a se mover. Os olhos ansiosos esperam por uma boa notícia, os ouvidos esperam por uma boa razão.
Na escuridão em que se encontrava, a luz nunca pensou em se fazer presente. O dia não tinha acesso. O pensamento era a única voz, a solidão era a única companhia.
Em um outro horizonte, a luz bateu. Subiu no céu sem aviso prévio, estourou cada vertigem, incendiou o ar.
As lágrimas que há muito não eram vistas, foram pedindo passagem. A imagem que já era feita foi rebobinada, reformulada. A confiança de muitos se foi.
A cabeça se pergunta com arrependimento, a corpo não para de se mover. Se auto castiga, ausente, quer sair dali.
O som não chega à seus ouvidos. A certeza não existe mais.
Os olhos já foram marcados, os pés já ultrapassaram o chão.
A cabeça já esteve nas nuvens, os dias já foram normais.
Abrace o meu corpo, mesmo que esteja sem vida. Quero sentir que esta aqui. Sussurre verdades mentirosas, ouça o silencio.
Faça-me deixar meu pulso em paz. Faça-me parar de me castigar.
Diga que confia em mim.
Me de um motivo para não ir embora, fale que sentirá minha falta. Olhe em meus olhos vazios e diga que essa é a realidade. Confesse que é tudo um grande erro, grite as verdades mudas sem ter vergonha.
Aceite quem eu sou.
Não deixe-me quebrar o espelho, me controle. Pegue alguns daqueles fios invisíveis e me manipule como um fantoche. Minta para mim.
Apague a luz, vamos embora.
segunda-feira, 15 de março de 2010
O Diário de Um Cão
1ª semana
Hoje faz uma semana que nasci. Que alegria ter chegado a esse mundo!!!
1 mês
Minha mamãe cuida muito bem de mim. É uma mãe exemplar.
2 meses
Hoje me separaram de mamãe. Ela estava muito inquieta e com seus olhos me disse adeus como esperando que minha nova "família humana" cuidasse bem de mim, como ela havia feito.
4 meses
Cresci muito rápido, tudo chama a minha atenção. Há várias crianças na casa que são como meus "irmãozinhos". Somos muito levados, eles me jogam uma bola e eu os mordo jogando.
5 meses
Hoje me castigaram, minha dona se zangou porque fiz "pipi" dentro da casa...mas nunca me disseram onde eu deveria fazer. E como eu durmo lá dentro eu não me agüentei!!!
6 meses
Sou um cão feliz. Tenho o calor de um lar, sinto-me seguro e protegido...Creio que minha família humana me ama muito. Quando estão comendo me convidam, o pátio é somente para mim e eu estou sempre cavando, como os meus antepassados lobos, quando escondiam a comida. Nunca me educam, seguramente porque nada faço de errado.
12 meses
Hoje completei um ano. Sou um cão adulto e meus donos dizem que cresci mais do que eles esperavam. Que orgulhosos devem estar de mim!!!
13 meses
Como me senti mal hoje. Meu "irmãozinho" tirou a minha bola. Como nunca pego seus brinquedos fui atrás dele e o mordi. Mas como meus dentes estão muito fortes, machuquei-o sem querer. Depois do susto me prenderam e quase não posso me mover para tomar um pouco de sol. Dizem que sou ingrato e que vão me deixar em observação (certamente não me vacinaram). Não entendo nada do que está acontecendo.
15 meses
Tudo mudou. Vivo preso no pátio, numa corrente. Me sinto muito só. Minha família já não me quer. Às vezes esquecem que tenho fome e sede e quando chove não tenho teto que me cubra.
16 meses
Hoje me tiraram da corrente. Pensei que tinham me perdoado e fiquei tão contente que dava saltos de alegria e meu rabo balançava. Parece que vou passear com eles. Subimos no carro e andamos um grande trecho quando pararam. Abriram a porta e eu desci correndo, feliz, crendo que era dia de passeio no campo. Não entendo porque fecharam a porta e se foram. "Esperem"!!! - lati..."esqueceram de mim...!!!". Corri atrás do carro com todas as minhas forças. Minha angústia aumentou ao perceber que o carro se afastava e eles não paravam. Tinham me abandonado.
17 meses
Procurei, em vão, achar o caminho de volta à casa. Sentei-me no caminho, estou perdido e algumas pessoas de bom coração que me olham com tristeza e me dão algo de comer. Eu agradeço com um olhar do fundo de minha alma. Quisera que me adotassem, eu seria leal como ninguém. Porém eles apenas dizem: "- pobre cãozinho, deve estar perdido".
18 meses
Outro dia passei por uma escola e vi muitas crianças e jovens como meus "irmãozinhos". Cheguei perto e um grupo deles, dando risadas, atirou-me uma chuva de pedras "para ver quem tinha melhor pontaria". Uma dessas pedras atingiu um dos meus olhos e desde então não enxergo com ele.
19 meses
Parece mentira mas quando eu estava mais bonito as pessoas se compadeciam mais comigo. Agora que estou muito fraco, com um aspecto bem mudado pois perdi meu olho, as pessoas me tratam a pontapés quando pretendo deitar-me à sombra.
20 meses
Quase não posso me mover. Hoje, ao atravessar a rua por onde passam os carros, um deles me atropelou. Pelo que sei, estava num lugar seguro chamado "sarjeta", mas nunca vou me esquecer do olhar de satisfação do motorista. Antes tivesse me matado, porém só me deslocou a cadeira. A dor é terrível, minhas patas traseiras não me respondem e com dificuldade me arrastei até uma moita fora da estrada. Já fazem 10 dias que estou em baixo de sol, chuva e frio, sem comer. Não posso me mover, a dor é insuportável. Sinto-me muito mal, estou num lugar úmido e parece que meu pêlo está caindo. Algumas pessoas passam e não me vêem. Outras dizem: "- não se aproxime". Já estou quase inconsciente, porém uma força estranha me fez abrir os olhos. A doçura de sua voz me fez reagir. "Pobre cãozinho, veja como te deixaram"- dizia. Junto a ela estava um senhor de roupa branca que começou a tocar-me e disse: "- Sinto muito senhora, mas esse cão já não tem remédio, o melhor é que deixe de sofrer". A gentil dama consentiu, com os olhos cheios de lágrimas. Como pude, mexi o rabo e olhei para ela agradecendo por me ajudar a descansar. Senti somente a picada da injeção e dormi para sempre, pensando em porque nasci, se ninguém me queria.
Autoria Desconhecida