' E assim o tempo vai passando...

segunda-feira, 22 de março de 2010

adultos...


Quando eu era pequena achava que os adultos não tinham sentimentos. Eles não se apaixonavam, não namoravam, não riam nem tinham orgasmos. Aliás, quando primeiramente descobri o que era sexo, foi vendo os filmes na televisão, e sempre achei que só os homens tinham orgasmos. As mulheres só serviam de tipo "porto seguro", um lugar quentinho para colocar o órgão de reprodução masculina. Por isso que as mulheres engravidavam e os homens não - afinal, eram eles que colocavam o bebê lá dentro. Bem, enfim, eu achava que adultos não sentiam nada - só viviam para trabalhar, sustentar os filhos e dormir. E colocar bebês nas barrigas das mulheres.

Afinal, como eu podia ser tão intensa, sentir tudo a minha volta, agir muito mais instintivamente e emocionalmente do que de modo racional, e ninguém mais ser assim? A minha mãe era tão fria, eu sempre voltava pra casa chorando por causa de um olhar, uma risada, um tapa, qualquer coisinha. E ela sempre ficava naquela seriedade toda. Não sentia nada. Então passei a ver que o "adulto" era algo muito acima da minha concepção, algo técnico, como matemática, frio, exato, apenas números escritos no papel que era o mundo. No final, aquilo só aumentava a minha intensidade, porque eu tentava me prender mas não conseguia. Então voltava pra casa chorando e mamãe só ficava lá, calada, fria, impassível.

E também não entendia porque eles sempre se controlavam. Eu sempre estava fervilhando, com os sentimentos à mostra, para todos ver. Eu era transparente. Mas os adultos não. Eles sempre estava lá, escondidos, empacotados em suas roupas grandes demais, em seus paletós e caras sérias. Ninguém sorria. E eu voltava para casa derramando lágrimas enquanto lá fora os pais dos meus vizinhos os recolhiam, com caras impassíveis, cansadas ou apenas adultas.

Até que comecei a assistir mais filmes que diziam isso. Os adultos nada mais eram que impassíveis, apenas vivendo no mundo para fazer o dinheiro circular. Apenas trabalhando, saindo cedo e chegando tarde, sem dar o mínimo de atenção ao que lhes rodeava. Acho que por isso que nunca fui consumista, de entrar num shopping e comprar horrores só para me sentir melhor (conheço pessoas assim e nunca entendi como é que isso lhes faz tão bem). Eu não comprava para me sentir melhor porque eu achava que estaria sendo igual aos adultos que eu conhecia, ou pensava que conhecia, ou analisava - mesmo que não lembre de nada. Eu achava que estava sendo igualzinha a eles, somente gastando o dinheiro que consegui com o meu trabalho. Nada mais. Nenhum sentimento, nenhum apego, nada.

Demorei para entender que, no final das contas, as pessoas só estão fugindo de si mesmas e por isso fingem que são cultas e frias, para não ter de se apegarem a ninguém por saber que, a qualquer momento, aquela pessoa pode ir embora. Ou pode lhe trazer problemas piores. Então, se apegam as coisas, ao material, às compras, só porque supostamente demoram mais para acabar. Trabalham para ganhar. E vivem para gastar. Mal sabem que elas próprias tem fim, e até mesmo uma coisa comprada num shopping pode lhes trazer problemas ou acabar.

No final, todos nós só precisamos de uma dose de amor, de intensidade, aquela mesma que eu destilava tanto nos meus choros quando era criança. E ainda destilo, vez por outra, com mais frequência do que eu queria.

A gente só precisa de amor. Ou um livro gostoso num fim de tarde chuvoso. Ou um filme de terror.

No final, é tudo sobre o amor. E estão todos correndo, se escondendo, fugindo dele.

(e eu nunca vou entender o porquê)

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