' E assim o tempo vai passando...

sexta-feira, 15 de junho de 2012

Memória afetiva

Porque a gente tem que ser tão carente? Porque a gente tem que depender tanto dos outros? E não só dos outros, mas do tratamento que os outros dão para a gente. Porque a gente tem que ser tão dependente de beijo, de abraço, de carinho, de cafuné, de dormir agarradinho? Porque a gente simplesmente não encara isso com a maior normalidade, como se não fosse nada demais, só o mesmo de todos os dias. Porque nos falamos com nossos pais, damos bom dia para o porteiro e obrigado ao motorista do ônibus na maior naturalidade, e quando alguém te dar uma gota de carinho qualquer, nós levamos a sério? Nós ficamos feito loucos, atordoados, pensando naquela pessoa, nas ações dela, nos benefícios que ela pode trazer pra nós... Sem falar nas horas perdidas imaginando os dois juntos, a troca de carícias, as lembranças das conversas, dos toques, dos simples gestos... Porque isso acontece? O que faz isso acontecer? E porque temos que levar tão a sério? Porque, afinal de contas, temos que depender tanto desse tratamento?

Sei lá se essa porra se chama amor. Pra mim é mais carência. Amor é algo mais profundo, mais da alma. Por exemplo: fica fácil dizer "Eu AMO essa banda", porque, de um modo ou de outro - dependendo do seu estágio de conhecimento dela, ou da frequência que a escuta - você realmente ama aquela banda, aquele som, aquela música ou aquele disco. Porque ela (a banda) já vem te acompanhando há algum tempo na vida, te ajuda a passar por situações ruins e boas, e quando você escuta as músicas de tal banda, sempre atiça a memória afetiva (e vem aquelas lembranças dos momentos com aquela música e tudo mais). Mas, o que acontece no nosso cérebro quando a gente simplesmente sente falta de dormir de conchinha com alguém? De abraçar e beijar alguém que a gente gosta? De conversar com alguém, mesmo que esse alguém seja de longe? Sei lá que porra é essa, mas só sei que eu tô sentindo, e até demais.

É uma merda gostar. Não sei qual é o pior: admitir que gosta ou ficar sentindo falta. Talvez, quando a gente admite que gosta, nosso cérebro entenda como "coisa séria", e comece a lhe dar altas restrições. Tipo: você não pode sair no sábado a noite, ficar bêbada e pegar dois, três guris na mesma noite porque você já DISSE A ELE que gostava dele. Daí seu cérebro meio que faz uma aposta acirrada com as partes sexuais do seu corpo, criando aquele ~climão manero~ entre a dúvida se faz isso descrito acima ou fica em casa, passando a madrugada conversando com o guri no MSN. É, talvez o compromisso que você assume consigo mesmo (em dizer pro garoto que está apaixonada por ele) seja pior do que sentir falta.

Ou não. Sentir falta também é uma merda, porque está acima dessas decisões que você combina com seu cérebro (ou com o garoto). Porque você pode até pegar cinco numa noite só, chegar em casa suja e ainda bêbada, cair na cama e dormir até nunca mais... Mas quando você acorda no outro dia, será aquele carinho na cabeça, aquele abraço apertado, até aquele entrelaçar de mãos que parece não querer soltar nunca, serão essas coisas que vão fazer falta. E isso, sim, é pior do que qualquer coisa - até mesmo do que o compromisso com alguém que está há 1.200km distante de você.

Aí eu me pergunto, novamente: porque a gente é tão dependente disso tudo? Porque a gente simplesmente não encara tudo na maior naturalidade, e deixa a vida seguir? Bem, talvez a resposta pra isso tudo seja: porque simplesmente essas coisas não acontecem com a gente todos os dias. Porque, se acontecessem, perderiam a graça - e aí deixariam de ser especiais. E são esses momentos especiais que formam nossa personalidade, caráter. São pequenas coisas assim que marcam nossas vidas, e as fazem valer à pena.

Para o bem ou para o mal, carência ou amor, bandas ou guris, o que importa é que quando uma coisa nova acontece na vida da gente, mesmo que a gente não tenha chance de alcançá-la de primeira, mesmo que tudo seja distante e difícil demais, no final vai valer mais a pena do que o que a gente esperava. Afinal, gostando ou amando, é assim que a gente vai crescendo, vivendo e aprendendo. E assim será a vida (daqui até a eternidade).

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