Havia um deque largo e longo, suportando de uma ponta a outra o mar que insistia em tentar derrubar as toras de madeira fincadas na areia. Havia ondas, pequenas, que hora e outra soltavam espumas brilhantes, quase colocando formas estranhas para fora d’água. Havia aquela fileira de barracas recheadas de frutas de todos os tipos, havia lojinhas de suvenirs, artesanatos, brechós e livrarias esperando uma merecida visita mais demorada.
Havia bancos de madeira a cada cinquenta metros, virados para o mar, onde os casais se abraçavam. Era fim de tarde, apesar de ser muito tarde no meu relógio e o sol ainda causticava os rostos rosados dos homens e mulheres que por ali não paravam de ir de um lado para o outro. Ali, os séculos não passavam, o mundo não girava: como se o lugar, as pessoas, quem sabe até o clima frio e seco estivesse preso nos anos 50. E eu também estava lá.
E haviam as pessoas. Sofisticadas, ricas, bem vestidas. Mas também pobres e maltrapilhos. Casacos de pele e grandes cartolas caminhavam vagarosamente pelo deque, ignorando os muitos idosos sentados no chão, implorando por comida ou dinheiro. Vez ou outra, crianças corriam entre as pessoas, e um senhor bem vestido, de monóculo e relógio de bolso, gritava da porta da sua lojinha: “Pega ladrão! Pega ladrão!”.
O cenário era agitado, mas as situações eram cotidianas: todos os dias, aquelas mesmas pessoas passeavam pelo deque ostentando suas riquezas, os mesmos velhos pediam dinheiro, as mesmas crianças corriam e os mesmos senhores chamavam a segurança do local para denunciar um furto. E todos os dias, casais se encontravam nos bancos de madeira, assistindo o sol se deitar no mar.
Assim, lá estava ele, sentado. Vestia um casaco e uma touca de lã cobria suas orelhas. Tinha as pernas sentadas por cima das mãos e balançava os pés como uma criança brincando no balanço. Lá estava ele, esperando. Era tão lindo.
Caminhei pelo deque, esbarrando nas pessoas, observando-as, procurando me distrair. Mas ele me hipnotizava. Homens lindos passavam por mim, olhavam para mim e sorriam timidamente. Eu só conseguia responder com um aceno de cabeça e seguir em frente, ao encontro dele.
Cheguei mais perto e toquei-o no ombro, num gesto que foi correspondido automaticamente, quando ele virou e sorriu para mim. O sorriso dele brilhava. Ele levantou-se, deu a volta no banco e parou à altura dos meus olhos. Sem dizer palavra, me abraçou, me desligando por completo da multidão transeunte atrás de nós, trazendo toda paz e felicidade de volta.
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Há tempos que não escrevia algo assim. Precisava me recuperar, ver se minha veia literária e descritiva ainda funcionava comigo. Pelo jeito sim, mas ainda há alguma coisa faltando - um mote principal pra cada história. Descrições e adjetivos já não fazem mais tanto sentido, mas ainda é um bom (re)começo.
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