Ideias infindáveis de passados extremos desciam pela torneira. A água, pela minha cabeça.
De tanto pingar, inundei-me.
Inundada, os pensamentos boiaram. As duas realidades se juntaram, o mármore e a cabeça, o real e o subjetivo, e formaram o agora.
Fui pensamento, nadei. Continuei até os musculos dos meus braços latejarem daquela dor agúda, daquela cãibra paralela, da parte humana do pensamento. A parte humana de mim.
Quando parei em meio ao nada, o cenário mudou. Das longinquas e remotas ondas, nasceu uma ilha. Da imensidão abaixo dos meus pés, nasceu uma terra.
Das dores que tomavam o meu corpo, nasceram rosas, que brotaram no chão. Das águas que viam-se em mim-pensamento, veio a luz.
Eu-pensamento vivi naquela ilha. As casas eram rosas, os becos eram rosas, os cheiros.. eram de rosas. Os dias, eram luz. As noites.. pingos dela. A inundação foi para ilha como o mar, e para mim como lembrança. Não era única como pensamento, não era a única idéia. Mas alí não vi mais nenhuma. Fui solitária assim como aquela antiga lua, rodeada de gente, e sem ninguém para si.
Aprendi a caminhar. Fui até onde a minha vista alcançava, e quando cheguei lá, resolvi ir além.
Foi quando alí conheci o deserto, e por ele me apaixonei.
fui sua dona, e a ele eu pertencia. Com ele vivi, dele vivi, por ele vivi. Assim como o número de lados da figura perfeita. Mas, era figurado.
e de tanto ser figurado, a contagem do tempo foi insuficiente para lembrar a luz de meus pensamentos. Satisfazia apenas a metade de mim. Corri do deserto, mas ele me envolveu. Tive medo. Corri do medo, mas ele nunca me deixou. A vertigem certa vez me deu uma chance, e eu não tinha nada a perder. Fui, assim como quem pula um parágrafo de uma história. Passei o tempo do meu eterno. Voltei para a minha margem.
Cansei das rosas e de todo o chão. Todas elas me lembravam a areia e o calor, daquilo que eu já esquecera. Conheci a raiva, e ela me deu uma ideia. Eu sou ideia.
cortei as rosas, fiz uma jangada. Uma jangada de rosas. O medo sabe ser poético até em clichê.
Elas são lindas, lindas como sempre amei. Mas tem espinhos. E as tendo como proteção contra o mar, como um piso em meio ao vão, aguentei seus cortes, suas feridas, e suas dores.
As rosas não entendiam o porque de eu-pensamento ter mudado tanto. O quanto as amava, o quanto não as amava mais. ‘viemos de você’, elas diziam.
‘como pode odiar aquilo que criou, o que te alimentou?’
Não podia, pois havia chegado ao fim. A jangada me deixou em meio ao meu destino. Percorrendo o meio do mar, terminei o meu infinito. Cheguei ao fim do meu eterno.
Eu? Eu-pensamento. Pensamento? Pensamento-gota. Gota?
Eu sou gota, e cheguei ao mármore. Agora sou poça. Pensamento? Sou mar.
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